Ao invés de advogar uma absurda moratória sobre os biocombustíveis, os xiitas verdes melhor fariam em propor um freio imediato à expansão da pecuária extensiva na Amazônia, a grande culpada pela destruição da floresta. Como disse o professor Joan Martinez Alier em O Ecologismo dos Pobres (Editora Contexto, são Paulo, 2007): "100 toneladas de biomassa por hectare são substituídas por uma vaca por hectare."
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), 70% das áreas desmatadas da Amazônia foram transformadas em pastagens, sendo que a pecuária bovina utiliza, atualmente, 30% de toda a superfície da terra, incluindo as pastagens permanentes e um terço das terras aráveis para a produção de rações.
A abundância de terras baratas conjugada com uma tecnologia aprimorada projetou o Brasil para o primeiro lugar no mundo como exportador de carne bovina, com o desfrute de algumas arrobas de carne por hectare e a criação de pouquíssimos empregos diretos. A longo prazo, a reconversão da pecuária extensiva se impõe, com boas perspectivas para a sua integração com a agroenergia. Ao mesmo tempo, convém pensar em modalidaes de produção de proteínas animais com uma pegada ecológica bem inferior à da pecuária bovina, que exige grandes pastos ou solos agrícolas para produzir ração. O boi não é um bom conversor de pronteína vegetal em animal.
Peixe na rede - Um novo e bem-sucedido restaurante em Brasília - serve a um preço muito razoável saborosos pratos elaborados com filé de tilápia. O peixe vem de uma piscicultura instalada nos arredores da capital, que produz sete toneladas de peixe por ano por cada hectare de lâmina d'água. Sete toneladas de peixe contra algumas arrobas de boi por hectare!
A China é a campeã disparada na criação de peixes, cerca de 70% da produção mundial, e conta com uma tradição milenar: várias espécies de carpa vivendo em nichos diferentes dentro do açude, horticultura nos diques, sobras de folhas servindo de ração aos peixes, patos criados para adubar o açude e eliminar os insetos que proliferam na horta. Um sistema praticamente sustentável de produção de diferentes tipos de alimento!
O Brasil desfruta de condições excepcionais para se tornar um dos países líderes da "Revolução Azul" que apenas está começando; a pesca tradicional é um sistema de caça e não de criação, o seu extenso litoral do Atlântico, a Amazônia com a sua dotação de águas, o Pantanal e os numerosos lagos de represa se prestam muito bem à promoção de aquicultura, à condição de preservar a qualidade da água e não repetir os mesmos erros cometidos em vários países da Ásia e da América Latina ao destruir os manguezais para implantar fazendas de carcinicultura, com catastróficas consequências sociais e ambientais.
Vale a pena mencionar aqui um projeto da Fundação Oldebrecht no baixo Sul da Bahia, que se deu com o objetivo de cultivar tilápias em tanques-rede servindo-lhes uma ração composta integralmente de folhas de mandioca e de bananeira, ou seja, de resíduos vegetais que não exigem, portanto, nem um palmo de terra cultivável. Esta seria a solução ideal: grandes quantidades de proteína animal produzidas com uma pegada ecológica modesta, sobretudo por contraste com a pecuária bovina extensiva. Ao que parece, as tilápias não se deram bem com esta ração. Em que pese este episódio, o que vale é a idéia correta de aproveitar os resíduos da produção agrícola como insumos para a piscicultura. Mais cedo ou mais tarde ela vingará.
Sem ir ao extremo de eliminar o churrasco dos nossos cardápios, convém encorajar o consumo de peixes, recomendado por razões de saúde às quais se juntam agora argumentos ambientais."
Ignacy Sachs
-- -- -- -- -- -- --
www.amazoniaparasempre.com.br/